A história das lanchas rápidas
Ao som da guitarra do Linkin Park e das batidas de Jay-Z, elas surgem. Em alta velocidade, quase sempre na perseguição de algum bandido, garantiram para si o espaço no imaginário de pessoas mundo afora. Pessoas que viam ali uma alternativa talvez mais radical, que fugisse do habitual e lhes assegurassem alguma adrenalina diante da grande tela. Muitos não sabiam, mas aquela história começara muito antes.
Seja em relação ao filme, Miami Vice, que chegou aos cinemas em 2006 com uma versão muito mais sombria e violenta que o seriado, sucesso nos anos 80. Ou mesmo em relação a uma das protagonistas da trama. A lancha rápida apresenta ao longo de seu percurso quase sempre retilíneo uma trajetória muito mais sinuosa, composta por altos e baixos que, muitos não hesitam em apontar, estiveram prestes a condená-la ao esquecimento dentre os barcos que hoje fazem a cabeça dos fãs em alto-mar.
Trajetória esta que teve início longe da Miami das drogas e do submundo dos cartéis. Mais precisamente no mesmo Rio Hudson que corta todo o Estado de Nova Iorque e ficou marcado como o berço da primeira associação americana de lanchas rápidas. Ainda que tenha protagonizado sua primeira aparição ali, a cena acabaria encontrando terreno propício para o seu desenvolvimento nas águas do Estado de Michigan, mais próxima da famosa indústria automotiva de Detroit.
A presença das lanchas rápidas ao lado de um centro de maior efervescência criativa, já era de se esperar, respingou em sua evolução, com designs arrojados lançados por mentes como Gar Wood. Dali, início de século, até a década de 50, os barcos ganhariam o mar aberto, deixando para trás um passado que engloba nomes como Wayne Schaldenbrand e suas lanchas que atingiam os 50 e poucos km/h. Era o início de uma nova era, das corridas em mar aberto como se conhece hoje e que tantas cabeças fascinaram a partir da eclosão de Miami Vice em 1984. A era da Miami-Nassau, da primeira grande disputa nos Estados Unidos, comparada em seu momento às 500 milhas de Indianápolis.
Ousadia não faltava naquela época. "Durante aqueles anos 60, as pessoas tentaram de tudo para ver o que funcionava e o que não funcionava", recorda Charlie McCarthy, um dos responsáveis pela manutenção da memória desse despertar para o potencial das lanchas rápidas. Em meio às suas histórias, surgem alguns personagens, nenhum, muito provavelmente, com o mesmo peso que Don Aronow nessa incursão por aquelas águas recém-conhecidas - pelo empresário, claro - de Miami.
O legado de Don Aronow é sentido ainda nesses dias. Por trás da fundação de inúmeras empresas, a este nova-iorquino do bairro do Brooklyn é creditada a criação em 1969 daquela que é considerada a obra fundamental na trajetória das lanchas rápidas, a Cigarette. A sua contribuição já estava dada e, com ela, um pouco mais adiante, ele se despediria, assassinado sob circunstâncias que custaram a serem resolvidas e que se provariam inspiradoras para que a arte imitasse a vida, com os boatos de que o tráfico de drogas estaria envolvido no episódio. O caso não ficou provado, mas o dano já estava feito, resultando no abandono do mercado por parte de grandes marcas, então seduzidas pela aparição dos catamarãs.
Não era o fim dessa história, como os próprios fãs de Miami Vice podem atestar. Mesmo os brasileiros, que, ainda antes dessa passagem, viram as lanchas rápidas invadirem as águas nacionais com uma motivação militar que ainda hoje se mantém, com a negociação desses barcos com países centro-americanos, mas que, felizmente, não se restringe a isso, com a presença maciça das lanchas no turismo, seja com fins pessoais ou comerciais - conforme pode ser identificado em locais paradisíacos como Morro de São Paulo, na costa baiana.
Em tempo: as lanchas rapidas são também chamadas de Speedboats ou mais comum no Brasil: Lanchas Offshore!