A lendária ponte de Salvador
Terceira maior cidade do Brasil, Salvador vê nascer a cada ano, em suas ruas, uma nova Salvador. Menor, é verdade, mas suficientemente grande para lhe conferir o posto de cidade com a mais elevada densidade populacional do País.
Não é algo do qual seus políticos se orgulham. Muito pelo contrário. Eles até tentam pensar em soluções para o problema. Várias ideias se encontram em pauta. Uma delas com maior destaque. Perguntam por que não expandir a capital baiana. Aumentar os seus limites além-mar.
Não entendeu? Pois é isso mesmo. Não se uma trata de uma novidade para os soteropolitanos. O projeto de ligar Salvador à Ilha de Itaparica já está por aí, há algum tempo. Foi proposto pela primeira vez em 1967. Obra de Sérgio Bernardes, que, no embalo da política de incentivos fiscais para o Nordeste, cogitou a construção de uma ponte estreitando os laços entre as duas cidades. Não foi levado a sério.
A sugestão voltaria a ser reavivada nos anos 80, agora pela Odebrecht, que chegou a apresentar uma projeção gráfica de como seria a estrutura. Mesmo com algo muito bem fundamentado em mãos, não conseguiu convencer o então governador, Antônio Carlos Magalhães. Esbarrou no aspecto financeiro. Pretendia arcar com os custos, exigindo em troca a concessão, para cobrança de pedágio, durante 25 anos.
Viu sua oferta ser derrubada em favor da empresa TWB, que ganhou o direito de explorar o sistema de ferry boat pelos mesmos 25 anos. Sucateado, o meio de transporte é questionado pela população baiana, que, a cada fim de semana, se depara com filas quilométricas para conseguir fazer a travessia até o outro lado do litoral.
São 12 km que separam Salvador da Ilha de Itaparica. O percurso provavelmente seria feito em menos tempo através de uma ponte. As autoridades sabem disso. Não por acaso, trabalham de cara à Copa de 2014 para que a velha ideia de Sérgio Bernardes e da Odebrecht volte a tomar corpo. Em novembro, está prevista a entrega dos estudos de viabilidade técnica.
Orçada em pouco mais de R$ 2 bilhões, a obra causa polêmica. Alguns veem o gasto como desnecessário. Os políticos dão de costas. Sonham com o instrumento, que deverá ter oito pistas - sendo duas delas para veículos de carga pesada - e vãos que superam os 80 m de altura e os 350 m de largura, permitindo a passagem, com facilidade, até mesmo de portaaviões de grande envergadura.
Local que abrigaria a construção, a Baía de Todos os Santos e seus 42 m de profundidade pertencem a uma área de proteção ambiental desde 1999. Reside nesse detalhe a preocupação das autoridades, com os efeitos que a ponte poderia trazer à vida marinha do lugar.
Os responsáveis pelo projeto admitem o impacto da obra, mas veem com naturalidade. Argumentam que faz parte do processo para o desenvolvimento de Salvador. Algo que, se por um lado, acarretaria em alguns danos àqueles mares, não interferiria na circulação de embarcações, quaisquer que sejam seus portes - considerando a capacidade dos portos da capital baiana, Aratu e Pólo Naval. Mesmo o ferry boat, ainda que com mudanças que urgem a serem feitas com ou sem o instrumento, seguiria com suas atividades.
É a Boa Terra se mirando no passado para construir o futuro.