F1 PowerBoats no Brasil?
Lebos Chaguri fala para uma audiência de quase 40 mil pessoas diariamente. Poderia ser um jogador de futebol ou mesmo uma dessas celebridades. Não é nenhum dos dois. Na verdade, Lebos é um anônimo dentro de nosso universo esportivo que tenta através de sua conta no microblog Twitter fomentar o seu sonho. O sonho de ver a motonáutica reconhecida no Brasil. Ele faz a sua parte, essas quase 40 mil pessoas podem testemunhar. Em entrevista ao Portal Náutico, revela que está próximo de disputar o Mundial de Fórmula 1 da categoria e que trabalha para trazer uma etapa do campeonato para o país. "Eles têm interesse também", afirma.
Portal Náutico: Como você chegou ao Mundial de Fórmula 1?
Lebos Chaguri: Estava na Fórmula 1 Sul-Americana me correspondendo com outros pilotos. Eles, então, me contaram sobre uma vaga que estava sendo aberta na F1. Mas o começo de tudo mesmo foi através de contatos iniciados por mim. Eles ficaram sabendo que eu era campeão brasileiro, que havia participado na Sul-Americana e estava interessado em entrar no Mundial de Fórmula 1. Eu perguntei como era o procedimento para participar e eles me chamaram. "Vem para aqui que a gente abre uma vaga e consegue uma equipe para você". Conseguiram, então, na Singha, mas teria que levar algum patrocínio para ajudar a equipe. Ainda estou tentando patrocínio mas está difícil.
Na última viagem que fiz no GP da Europa, o presidente da categoria fez uma proposta para mim: "Se você não conseguir patrocínio para correr na Fórmula 1, gostaria que participasse da Fórmula 1 Nations Cup", que é similar à A1GP. Ela está sendo criada agora com três provas neste ano.
Portal Náutico: O custo para participar do campeonato é muito elevado?
Lebos Chaguri: É meio alto (risos), não como a Fórmula 1 dos carros. Depende muito do orçamento das equipes mas o que me pediram é um valor bem abaixo do custo real.
Portal Náutico: É uma realidade comum a todas as outras categorias?
Lebos Chaguri: Nas outras também. A Sul-Americana, por exemplo, libera para você montar uma equipe própria como fiz mas estava sem patrocínio e por força de orçamento fui forçado a parar. Agora no Mundial, só as equipes oficiais é que podem participar, então, você só entra se conseguir vaga nelas.
Portal Náutico: Se você conseguir viabilizar patrocínio, a sua estreia será quando?
Lebos Chaguri: A próxima corrida será semana que vem e não dá mais tempo, mas assim que conseguir patrocínio a equipe está com o barco reservado para mim.
Portal Náutico: Em relação a paddock, bastidor, exposição na mídia, como funciona se comparado com outras categorias?
Lebos Chaguri: Se você se apegar a um dos itens mencionados por você, a parte de mídia mesmo, a exposição que se tem em lugares como Estados Unidos, Ásia, Europa, África, às vezes são maiores que a Fórmula 1 de automobilismo, as provas são televisionadas e a divulgação é forte. Na China por exemplo, para você ter ideia, apesar de ser diferente do carro, não ter arquibancada e áreas VIP, você assiste sempre na orla, são 60 mil espectadores, 60 mil pagantes, aliás (risos).
Portal Náutico: Entre vocês, é feito esse paralelo acarretado por essa coincidência de nomes de categorias da motonáutica e de carro?
Lebos Chaguri: Algumas coisas que você observa têm mesmo ligação. O Mundial de Fórmula 1 de barco surgiu em 1981, inspirado mesmo nos carros. Foi a partir daí que eles resolveram criar. Mas a comparação maior é em relação a coisas como arranque, velocidade, ponto de curva, algumas coisas assim. Por exemplo, o barco ele te dá 4.6 G na curva, força de gravidade, o arranque dele vai de 0 a 160 km/h em menos de quatro segundos. Alguns fatores ultrapassam os carros de Fórmula 1.
Portal Náutico: Me parece que existe um domínio dos italianos na categoria. O Guido Cappellini, por exemplo, conseguiu construir uma hegemonia.
Lebos Chaguri: Na verdade, não. As equipes fortes nestes dois últimos anos foram a Mad Croc, que acredito que é a mesma da Sauber da Fórmula 1, a Zepter, a Qatar e a Abu Dhabi. O campeão do ano passado foi um finlandês, mas claro que tivemos Guido Capellini. Até quando correu, ele era o top, ganhou vários campeonatos. Ele migrou para a Class One agora. Era mais ou menos um Michael Schumacher porque ele sempre estava na frente, era considerado meio que imbatível, uma espécie de Ayrton Senna, Fittipaldi. A sua equipe em conjunto com o fabricante do barco, estava sempre aprimorando a embarcação, de corrida para corrida.
Portal Náutico: Deixando um pouco o Mundial de lado, como funciona o Campeonato Brasileiro?
Lebos Chaguri: Aqui no Brasil, a motonáutica anda muito parada. Tanto que no ano passado não teve Campeonato Brasileiro, apenas a Stock Boat. As outras categorias deram uma parada. O Brasil está muito fraco porque não tem investimento na motonáutica, não tem retorno de mídia, não tem apoio de ninguém, tornando a situação complicada.
Portal Náutico: Existe um movimento pela criação de uma associação?
Lebos Chaguri: Deixa eu explicar a situação: nós temos a Confederação Brasileira de Vela e Motor, mas estamos com um problema porque para eles o foco principal é a vela. Então, no jet ski, por exemplo, você tem o BJSA. A motonáutica, pelo contexto, seria a Confederação Brasileira de Vela e Motor, só que ela não dá apoio, então, eu e o Paul Gaiser estamos organizando a Abranáutica para reativar e fomentar a motonáutica no Brasil. Você tem a federação gaúcha, a federação paulista, a federação carioca, mas não estão linkadas a uma confederação. No Sul, este ano parou porque teve um acidente fatal. Ainda tem o pessoal de Florianópolis, Santa Catarina, que criou uma categoria, desenvolvendo um barco que está começando agora, mas tecnologicamente, o Brasil está muito aquém em relação a outros países, principalmete pela dificuldade de importação de equipamentos e de investimento do setor privado.
Portal Náutico: Não há mesmo apoio da CBVM, então?
Lebos Chaguri: Para a motonáutica, a CBVM não tem nenhum recurso, por isto que o Campeonato Brasileiro de 2009, foi realizada pela BJSA. É uma modalidade que anda meio órfã, a confederação foi feita para isso, mas eles não dão nenhum suporte.
Portal Náutico: É bastante diferente fora do país?
Lebos Chaguri: Se você vai para os Estados Unidos, África, Ásia, Europa, Rússia, você olha todos esses lugares e se depara com um trabalho bem feito, divulgado, com diversas categorias, eles participam muito, é diferente do Brasil. Mesmo tecnologicamente é um outro mundo.
Portal Náutico: Dá para aproveitar algo dessa estrutura que já existe nesses lugares?
Lebos Chaguri: Eu estou indo para fora e observando as competições e sua estrutura. Conversei com os dirigentes da F1 e eles têm interesse em trazer uma etapa para o Brasil. A partir daí é tentar desenvolver e fomentar a motonáutica no país. Você tem em São Paulo opções de circuit comoo a represa de Guarapiranga. No Rio de Janeiro a Lagoa Rodrigo de Freitas, enfim, o Brasil possui locais em vários Estados para a prática do esporte.
Portal Náutico: E a sua entrada no mundo da motonáutica, como aconteceu?
Lebos Chaguri: Quando eu era criança assistia as corridas e com 14 anos comecei a treinar, mas acabei migrando para a motovelocidade. Depois parei durante um tempo de competir e voltei no iatismo. Na sequência fui chamado para organizar uma prova de motonáutica na represa da Guarapiranga durante a Virada Esportiva, acabei relembrando meu sonho de criança e me convidaram para competir. Consegui ir direto para a Fórmula Indy sem passar por outras categorias e fui embora.
Portal Náutico: Quais são os requisitos para ser piloto na F1?
Lebos Chaguri: A experiência, títulos, no caso fui campeão brasileiro, passei pelo Sul-Americano. É mais ou menos a partir daí que eles decidem se te dão a superlicença. Depende de quantos anos você tem e o que você já fez, é quase como na carreira de aviador, tem que acumular uma certa rodagem e bagagem.
Portal Náutico: Conforme até comentado por você, tivemos esse acidente fatal no Rio Grande do Sul recentemente. Falta segurança na modalidade?
Lebos Chaguri: A falta de segurança é mais por causa do estilo da embarcação. Os hidroplanos, também conhecidos como três pontos, são barcos muito perigosos. Na Argentina e na Europa pararam com a categoria. Já nos Estados Unidos existem várias categorias de hidroplano. O perigo é que quando você faz a curva você faz ela em drift, quase que na mesma velocidade, controlando e derrapando de lado e qualquer buraquinho, ondulação ou depressão na água você pode capotar.
Este acidente que ocorreu no Campeonato Gaúcho, ao procurarem o piloto não acharam e quando retiraram a embarcação afundada, ele estava preso na hélice pelo macacão. Foi uma fatalidade.
Portal Náutico: Mesmo em um esporte tão pouco popular no país, chama a atenção o fato de você ter quase 40 mil seguidores no Twitter. Ajuda na divulgação da motonáutica?
Lebos Chaguri: Ajuda um pouco. Eu falo sobre motonáutica, mas também falo de outros assuntos, há bastante jovens que me seguem, você joga uma coisa no Facebook e todo mundo vai lá e confere. E olhe que aqui a motonáutica é pouco difundida, chegou a ser definida como o esporte mais perigoso do mundo, mas hoje não mais. Chegam a falar que a casca de proteção do cockpit da F1 aguenta um impacto de 8 neutrons. Na hora que a F1 vier para o Brasil a motonáutica vai crescer, tenho certeza.