Morro de saudades
Pelo Brasil, há quem ache os quatro dias suficientes. Em Salvador, não. São seis e ainda há aqueles que, ao final de quase uma semana inteira de festa, resolvem estender o carnaval um pouquinho mais. Poderia ser na própria capital baiana, mas quase todos os caminhos, no entanto, costumam apontar para uma cidadezinha paradisíaca localizada a 308km dali, que ainda cultiva hábitos algo rústicos e que, em pleno século XXI, repele um elemento comum das grandes metrópoles: o carro.
É Morro de São Paulo, mas poderia ser Porto Seguro alguns anos atrás ou mesmo Itacaré, também situada na região Sul da Bahia. Mais próxima a Salvador, Morro é o local mais procurado pelos foliões que desejam prolongar a festa, que varre as ruas da capital entre fevereiro e março, num ritmo mais tranquilo. Isto é, com a sombra e a água fresca intercaladas com a farra que continua nos dias seguintes ao carnaval soteropolitano.
Para se chegar até lá, já demos a dica, nada de carros. Há três vias: a aérea, diretamente do aeroporto de Salvador, ainda que pouco utilizada; a terrestre, através das lanchas rápidas que partem desde Valença, cidade vizinha de maior porte; e, claro, para você, nosso leitor que desbrava o Brasil, a marítima. A procura já começa desde o segundo semestre.
Assim como Fernando de Noronha, em Pernambuco, é cobrada de cada visitante em Morro de São Paulo uma taxa no valor de R$ 10 reais designada como taxa de turismo. O montante, não é preciso pensar muito, serve para a manutenção de um paraíso que ainda carece de maior desenvolvimento e que, em períodos de maior rotação de pessoas como o réveillon, enfrenta apagões de energia. Esse aspecto selvagem, ainda assim, atrai justamente cada vez mais curiosos. Algo notabilizado por sua mata praticamente virgem e por seus monumentos históricos que datam do período pré-colonial.
Alvo de ataques de franceses e holandeses no passado, Morro de São Paulo está na mira hoje de pessoas que pacificamente buscam explorar seus cenários cinematográficos. A maioria faz o trajeto aeroporto-ferryboat-ônibus-lancha que corta Salvador, passando pela Ilha de Itaparica até chegar a Valença. O percurso marítimo, contudo, é uma alternativa que costuma seduzir a muita gente. E mais importante: desde que bem estudado, feito sem maiores complicações.
Para começo de conversa, na ausência do conhecidíssimo Farol da Barra, há o Farol local, construída no longínquo ano de 1855 numa posição privilegiada, mas que, é sempre bom fazer a ressalva, não serve de auxílio para navegação à noite. Esta, aliás, não é recomendada, entre outros motivos, por conta da profundidade do mar, que, abaixo dos 12 m, pode tornar a navegação perigosa, e também em virtude dos longos bancos de areia que acompanham a viagem desde a saída da Baía de Todos os Santos até a ancoragem em um dos pontos do pequeno vilarejo.
Ao chegar ao Arquipélago de Tinharé, que compõe ao lado de Cairu e Boipeba - igualmente recomendada as visitas - o município de Cairu, você irá se deparar com um lugar a ser praticamente todo ele percorrido a pé, em que os únicos barulhos virão das raras passagens das motos dos policiais. Atraque em uma das praias nomeadas através de números que obedecem uma ordem crescente e caia de cabeça nesse paraíso baiano. Mas não literalmente. Explico: uma de suas atrações é a tirolesa de 340 m de comprimento que chama a atenção dos visitantes mais radicais.