Naida, um projeto de 24 anos
Ainda hoje, a dúvida persiste. Foi um furacão ou não? Segundo especialistas, pode não ter passado de uma tempestade. Mas não uma simples tempestade. O evento meteorológico do século 20, afirmam algumas pessoas. Entre os dias 15 e 16 de outubro de 1987, a Inglaterra - sobretudo, sua parte Sudeste - foi devastada por ventos que chegaram aos 160 km/h e deixaram 18 mortos. Mais: 15 milhões de árvores derrubadas.
Não é preciso dizer, muitas dessas mesmas árvores causaram prejuízos financeiros imensos à população local. O que você faria diante disso? A maioria ligaria para o seu seguro. Nada digno de ser recriminado. Seria o caminho lógico. Talvez não apenas para Iain Tolhurst, que viu naqueles galhos escorados no chão após a tempestade - ou furacão, como queira - a chance de realizar um sonho de infância: a construção de um barco de quase 11 metros.
No início, ele imaginava que não lhe tomaria tanto tempo assim. "Talvez quatro ou cinco anos", afirma. "Não pensava que chegaria a tanto, romperia a barreira das décadas", completa, em entrevista ao jornal "The Guardian". Ao todo, foram 24 anos de ininterrupto trabalho até que esse agricultor de Hardwicke, cidade do interior da Inglaterra, conseguisse erguer toda a embarcação. Ao final, ele descreve, a sensação só poderia ser igualada a do nascimento de um bebê.
Foram 24 anos de trabalho, mas não de um trabalho ininterrupto, corrige Tolhurst. "Por diversas vezes, tive que parar o trabalho para mostrar o andamento da obra aos curiosos", relembra. Mais especificamente, ciclistas e motoristas que passavam por sua casa e viam em seu quintal - isso mesmo - aquele projeto de barco inspirado nas embarcações de pescaria do século 19 da Nova Inglaterra e batizado de Naida - uma homenagem ao navio onde a sua primeira esposa nasceu e teve o seu nome sacado, em 1954, na Sicília, Itália.
Esse inglês de 58 anos pode não saber, mas, de acordo com as contas do "The Guardian", foram 22 mil horas empreendidas na construção de Naida. Iain Tolhurst somente imagina. Por conta do projeto, passou os últimos sete anos sem navegar pelo mar. Não navegou, deixou de curtir um de seus hobbies preferidos, mas se orgulha, também não teve que gastar muito com o sonho de infância. Aquelas mesmas árvores derrubadas pela tempestade de 1987 seguiram fornecendo a ele toda a madeira utilizada no barco. Os custos de US$ 85 mil ficaram a cargo apenas do chumbo empregado na quilha, motor, ferragens, velas e alguns poucos equipamentos.
O projeto foi, enfim, finalizado em abril. Depois de 24 anos. Nesse verão, Tolhurst e a sua atual esposa, Tamara, viajaram até a Irlanda e voltaram. Nascido em Bristol, o fazendeiro lamenta apenas que o seu pai tenha visto apenas algumas fotos iniciais do barco. Falecido há cinco anos, veio dele a sua ligação com o trabalho manual. "Ele teria adorado", confessa Iain, que possui entre seus planos dar a volta ao mundo com Naida. Um projeto definido por alguns como a sua obsessão, mas que poderia ser aclamado por Iain Tolhurst como o seu legado na Terra.