O mais rápido do mundo
Setembro do ano passado. Alain Thébaut andava incerto sobre aquilo. O navegador tinha o seu barco ancorado ali, na baía de Hyères, sul da França. No aguardo apenas de uma decisão sua. As condições metereológicas pareciam favoráveis. Sol, vento soprando e mar liso. Ainda assim, ele se mostrava reticente. Faltava confiança. Resolveu, então, testar por alguns minutos. O resultado acabou sendo animador.
Suficientemente animador para motivar Thébaut a convocar sua tripulação e tentar atingir aqueles números que pairavam sobre a sua mente. Foram segundos angustiantes, mas de alívio ao seu final. O objetivo havia sido alcançado. Comandado pelo capitão francês, o l'Hydroptère, um trimarã de 60 pés, batera dois recordes absolutos de velocidade dentro d'água.
O primeiro ao atingir 51,36 nós numa distância de 500 metros e o segundo após alcançar 41,5 nós na milha náutica. Alain Thébaut realizava um sonho. Mais do que isso. Afastava de uma vez por todas as piadas que, no início do projeto, ainda nos anos 70, acompanhavam o veleiro devido à sua instabilidade.
A marca nos 500 m resistiria até a primeira metade desse mês, quando o kitesurfer Alex Caizergues conseguiu registrar a velocidade de 54,1 nós, rompendo a barreira dos 100 km/h e estabelecendo um novo recorde mundial em evento na Namíbia. O l'Hydroptère segue conservando, de qualquer forma, a condição de mais rápido do planeta entre os catamarãs de 60 pés.
Motivo de orgulho para Thébaut, cérebro e força-matriz da embarcação que sustenta o compromisso de proporcionar uma aventura impulsionada pelo que existe de mais moderno na tecnologia naval e aerodinâmica.
Apoiado em hidrófilos, o l'Hydroptère navega com o casco literalmente fora da água, permitindo aos seus tripulantes a incomparável sensação de voo. Numa velocidade de 12 nós, o casco atinge a altura de até 1,5 m, mantendo contato com a superfície das ondas através apenas das extremidades de suas aletas, responsáveis por fazer o barco planar.
Apresentando um conceito que pode ser resumido à redução da fricção com o mar, o veleiro, como não poderia deixar de ser, carrega também algumas restrições.
Entre seus pontos contra, está o desempenho sob baixas velocidades de vento e a instabilidade em superfícies que não oferecem as condições adequadas - o que inibe, por exemplo, uma possível tentativa de volta ao mundo. Segundo Alain Thébaut, o l'Hydroptère enfrentaria problemas diante de onda de mais de 2 m, arriscando o projeto e, claro, vidas humanas.
Não é esse o desafio do barco, que representa nas palavras de Thébaut e seus colegas a velocidade acima d'água. Um tapete voador mais preocupado com os recordes e seu legado tecnológico do que com a criação de uma frota para o mercado - em razão, também, dos altos custos que isso geraria.