O novo mapa dos estaleiros
A indústria naval brasileira vive de ciclos e alguns personagens. O primeiro deles, Irineu Evangelista de Souza. Mais conhecido por muitos simplesmente como o Barão de Mauá. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), foi ele o responsável pela construção do primeiro estaleiro do País, em 1846, em Niterói, no Rio de Janeiro.
Nesses primórdios, o segmento funcionaria basicamente sob demanda - um terço dos navios utilizados na guerra com o Paraguai, por exemplo, vieram de lá. A primeira fase de expansão do setor só chegaria algum tempo depois, já no século seguinte, mais precisamente nos anos 70. Sob o desejo na ocasião de um novo personagem, o Marechal Artur da Costa e Silva, um dos primeiros presidentes do regime militar instaurado no Brasil a partir de 1964. Com ele, foram criadas políticas específicas para o desenvolvimento da indústria, fazendo do País o segundo maior construtor naval do mundo.
Essa fase áurea não resistiria, no entanto, aos problemas que a economia brasileira viria a experimentar em seguida. Ainda assim, deixaria um legado. Dessa época, dos investimentos de Costa e Silva iniciados na década de 50 por Juscelino Kubitschek, ficaria o Complexo Portuário de Suape, um dos últimos locais visitados por Lula, antes de sua despedida do governo, nessa história de início, meio e fim que aponta para um desfecho feliz. Sobretudo, para o Nordeste.
Abandonada há mais de 30 anos, a indústria naval encontrou na região o caminho para retomar o seu desenvolvimento. É verdade que o Rio de Janeiro ainda segue concentrando os estaleiros - 15 dos 25 existentes no País estão no Estado. Mas é verdade também que dos R$ 7,6 bilhões previstos em projetos, R$ 6,1 bilhões serão direcionados para Bahia, Alagoas e Pernambuco. Em termos práticos, dos 17 novos estaleiros que sairão do papel nos próximos anos, nove deles serão instalados no Nordeste.
Há quem fale em falta de espaço no Rio. Uma meia verdade, dado que há planos de investimentos de até R$ 2 bilhões para o pólo local, o que lhe garantirá a manutenção da liderança nesse segmento. A expansão dos recursos para o Nordeste, na verdade, está mais relacionada a fatores como o preço dos terrenos, bem mais atraente na região, e o apoio dos governos.
Não bastasse o poder federal oferecer um desconto de 75% no Imposto de Renda às empresas que se transferem para lá, há ainda uma briga ferrenha de isenções fiscais entre os Estados. Sem contar a prorrogação até 2015 da liberação da taxa adicional ao frete para renovação da marinha mercante. A princípio, a medida que beneficia também a Amazônia vigoraria apenas até 31 de dezembro de 2010.
Passa por aí o movimento que pretende reconduzir o Brasil à dianteira da construção naval mundial. Hoje, o País ocupa a quinta posição no ranking. Empreendimentos como o Estaleiro Atlântico Sul, em Pernambuco, o maior do Hemisfério Sul, indicam, porém, que o caminho para se chegar até lá já vem sendo traçado. Outras obras de grande porte estão surgindo em estados vizinhos como Bahia (Paraguaçu e EDB), Ceará (Pomar) e Alagoas (Eisa).
Ponto de retomada dessa história, que tem no ex-presidente Lula o eixo central, o porto de Suape, onde se localiza o EAS, já batizou, inclusive, uma data que celebra o ressurgimento da indústria. O dia 3 de maio de 2009, quando foi lançado ao mar o primeiro navio construído no Brasil nos últimos 13 anos.