Os segredos da ancoragem
Como escolher o modelo de âncora? Quais fatores levar em conta durante a mudança de maré? Ou o que considerar em caso de ancoragem num fundo de pedras? São todas perguntas recorrentes e que alimentam uma discussão, algumas pessoas diriam, inesgotável. Um assunto dos mais polêmicos, o fundeio e a ancoragem de embarcações não foge ao alcance de ninguém. Para mostrar isso, o Portal Náutico convidou Eduardo de Aizenstein, da consultoria náutica 1000 lanchas, para falar sobre o tema.
Nada de aprender por tentativa e erro
"Existem teorias sobre técnica de ancoragem, ministradas inclusive nos cursos para habilitação náutica. Por outro lado, você aprimora essa teoria na prática. Uma não serve sem a outra, essa é a verdade. Antes de mais nada, ao se escolher o modelo de âncora, por exemplo, deve-se conhecer a região por onde navega, assim como o tipo de fundo no local. O segundo passo é conhecer qual o modelo de âncora apropriado a este tipo de fundo. Levando em consideração que na mesma região, o fundo pode variar, devemos pensar em algo versátil. Não esquecer que devemos ter redundância no ferro, e o segundo ferro pode ser de outro modelo.
No cálculo da distância de ancoragem, quando se tem a companhia de outro barco, por outro lado, é preciso apelar para a teoria e calcular a distância para que, no momento em que os barcos se alinhem, não corram o risco de encostar. Os barcos se movimentam na mesma direção, seja pelo vento, seja pela força da maré, portanto dizemos que 'giram juntos'."
Bom senso prevalece
"A mudança de maré muda a profundidade do local. Para ter um passeio mais confortável, se possível solte amarra suficiente para o fundeio na maré mais alta. Não esqueça que, na maré mais baixa, o raio de giro do barco vai aumentar. Em locais mais frequentados, o ideal é não correr riscos e fundear a uma distância segura de outras embarcações. Além de calcular o giro de seu barco, calcule também o raio de giro das outras embarcações. O bom senso diz que quem chegou primeiro tem preferência, então, ao fundear, examine a direção dos outros barcos. Basta ver se onde está sua embarcação, o ferro e, consequentemente, a amarra, não é passagem."
Passo a passo
"Na procura de um lugar para fundear, deve-se verificar basicamente o abrigo de vento, o abrigo de força das marés e a profundidade adequada - ou seja, a menor possível, sem oferecer riscos ao calado do barco. Um exemplo: em fundo de pedras, o melhor a se fazer é utilizar uma âncora garatéia para barcos pequenos e médios e, para embarcações de grande arqueação, almirantado. Qualquer que seja o caso, no entanto, é preciso utilizar a bóia de arrinque, para poder soltar o ferro verticalmente, pois ele irá 'engatar' nas pedras e deve ser puxado no sentido oposto."
Como soltar a âncora
"Em raras situações, a âncora pode ser lançada pela popa. Por exemplo, para se aproximar de locais de baixa profundidade, como praias ou margens de canais, e quando a embarcação permite 'levantar' a propulsão. A ponta do cabo sempre deve estar amarrada ao barco. Se houver correnteza ou ventos fortes, não é recomendável amarrar o barco em outra posição que não seja com o ferro preso à proa, pois é a posição de menor esforço para o ferro e amarras. Apesar de parecer uma operação simples, soltar a âncora exige um pouco de técnica e sensibilidade. Técnica para não colocar em risco a embarcação, como amarração correta, batidas, ralados e até mesmo deixar o barco a deriva, e sensibilidade para saber se o barco está realmente fundeado."
Sem deixar o ferro arrastar
"Quase sempre, os problemas com o fundeio ocorrem em função da âncora arrastando pelo fundo. Os motivos mais comuns são o pouco comprimento de amarras, soltar o ferro e não confirmar se "agarrou" e finalmente, mas não menos importante, ferros subdimensionados. De certa forma, quanto maior o comprimento da amarra da âncora, mais eficiente a ancoragem. Isto porque a âncora vai "enterrando" no fundo quando puxada na horizontal e 'desgarra' quando puxada na vertical."
Essencial
"Saber o tipo de solo é primordial para decidirmos qual o tipo de ferro vamos utilizar e quanto de amarra soltar. Quando o solo é de difícil penetração, caso do cascalho, precisamos de mais distância até que o ferro 'grude' ou 'enterre'. Já em superfícies moles, sendo o lodo de canais um exemplo, o ferro enterra rapidamente. E em curta distância."