Sem resposta na vela
Quando perguntado sobre o assunto alguns anos atrás, o medalhista olímpico Lars Grael se posicionou radicalmente contra o modelo que se enraizava no esporte brasileiro. Um modelo em que os dirigentes se perpetuam no poder. Mais notadamente, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, que prolongava o seu mandato na entidade até 2012. "É sempre saudável ter oposição. Temos de fugir da imagem de capitanias hereditárias no esporte. Com o rodízio, vem também o desenvolvimento", comentava.
Na época, especulava-se que Lars Grael poderia ser a oposição a Nuzman. O velejador tinha destacado o seu papel à frente da Secretaria Nacional de Esportes, entre 2001 e 2002. Ele rejeitava a ideia. Enxergava o vôlei na linha de sucessão do COB. Descartava ainda ter abandonado o comando da Confederação Brasileira de Vela e Motor em 2007, três semanas após assumir o cargo, devido à pressão que o seu próprio nome trazia sobre Carlos Arthur Nuzman e futuras eleições do Comitê.
Na verdade, segundo Grael, partiu também dele a sugestão de uma intervenção do COB sobre a CBVM. A entidade é mantida desde então sob a responsabilidade de Carlos Luiz Martins, também diretor do Comitê Organizador Rio-2016, e não há qualquer perspectiva de mudança nessa situação. A medida foi necessária, ainda de acordo com o medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Seul e Atlanta, por conta da gigantesca dívida da confederação. Para evitar uma possível punição penal, ele deixou o seu comando. Enquanto o problema não for resolvido, uma nova diretoria não poderá tomar posse.
Passaram-se mais de cinco anos desde 2007. O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, assegurou mais uma reeleição em fevereiro passado e agora completará 21 anos no poder do esporte brasileiro. Lars Grael segue com a sua postura fiscalizadora e como consultor técnico da vela no país. No entanto, não se sabe ainda quando a intervenção que a CBVM sofre se encerrará nem mesmo se os problemas fiscais da entidade poderão ser sanados. Um completo mistério.
Atualmente, a Confederação Brasileira de Vela e Motor é uma das modalidades que recebem a alíquota máxima na divisão dos recursos da Lei Piva feita pelo COB. Os membros da equipe recebem ajuda de custo mensal - no último ciclo olímpico, variou entre R$ 1.200 e R$ 2.500 -, são beneficiados com o custeio de suas viagens e contam com o fornecimento de equipamentos em treinos e torneios internacionais.
O esporte que mais medalhas conquistou para o Brasil na história olímpica - 16 contra 15 do judô -, a vela se depara com uma situação em que falta, inclusive, concorrência em determinadas classes. Foi o que aconteceu, por exemplo, em 2010, durante a definição da equipe brasileira daquele ano. Em algumas categorias, a disputa se resumiu a apenas a dois atletas. O diagnóstico é superficial: nova geração pouco talentosa, preparação difícil e alto custo de barcos. Nenhuma citação à eterna intervenção da CBVM. Talvez elas venham a partir do próximo ciclo olímpico, para os Jogos do Rio de Janeiro, quando até mesmo os medalhistas olímpicos de Londres não terão direito a apoio financeiro automático. O Portal Náutico estará acompanhando, em sua postura sempre fiscalizadora, o que acontece em nossas águas.