Americas Cup
Tribunal de apelação de NY decide por 3 a 2 que o desafiante principal da próxima Copa América volta a ser o Clube Nautico Español de Vela. Oracle, enlouquecido, vai recorrer.
Pára tudo!! Estava novamente este manza em plena produção resumônica, quando uma notícia-bomba explodiu no avantajado colo deste escriba.É que nas cortes de Nova Iorque, a raia mais tormentosa e rondada da história do nosso esporte, as cabeças dos juízes viraram novamente a disputa da 33ª Copa America de cabeça para baixo!!
Copa América - Como você já está cansado de saber, por enquanto a disputa da 33ª Copa América (America's Cup para os anglicistas) está, vergonhosamente, sendo feita nas cortes do estado de Nova Iorque. É que quando o Alinghi venceu novamente a copa, em 2007, em uma manobra estranha, assinou o protocolo de disputa da próxima contenda com um clube-fantoche deles, o inexistente até ali, CNEV - Clube Náutico Español de Vela.
O parceiro (de longa data) traído, Oracle, leia-se Golden Gate Yacht Club, enfurecido, entrou na justiça de NY, o estado onde no século 19 foi registrada a escritura de doação (deed of gift) da copa e as regras básicas de sua disputa quando não há um consenso entre defensor e desafiante(s). Coisa que, quase sempre houve, e permitiu até criar uma classe especial de veleiros (os IACC) para o "torneio".
O documento, no entanto, é acionado quando há divergência entre o defensor (no caso, o Alinghi, quer dizer, o clube Société Nautique de Genève) e o desafiante principal (o famoso Challenger of Record, o primeiro clube a formalizar o novo desafio. Neste caso, o CNEV que assinou o papel ainda na água, minutos depois do Alinghi cruzar a linha e ganhar em 2007).
A coisa feia é que o tal CNEV nunca existiu e o "dono" do Alinghi e do clube suíço sob a qual o barco corre, Ernesto Bertarelli, usou a artimanha para garantir que ele "sozinho" (já que o pessoal do CNEV era todo dele) faria as regras da 33ª Copa América como lhe conviesse. E todos, óbvio, chiaram. O Juiz Herman Cahn, assim entendeu também e julgou que o CNEV não poderia ser o desafiante e, como havia litígio, tudo seria disputado no modelo previsto na escritura de doação.
Daí a história de apenas dois times (seriam Alinghi - SNG -, o defensor, e Oracle - Golden Gate Yacht Club -, o segundo desafiante, depois do impugnado CNEV) em barcos de no máximo 90 pés de comprimento, o mesmo de boca (por isso, certamente multicascos), no verão do hemisfério norte, etc, etc. Tudo rigorosamente dentro das letras do século retrasado.
Só que agora a corte de apelação de NY mudou tudo de novo. Reabilitou o CNEV e destituiu o Oracle da posição de desafiante principal. Ou seja, volta tudo como era. Quer dizer, quase tudo. Só que os americanos vão recorrer, claro. E a coisa toda pode mudar de novo! Saco!!!
Agora, triste mesmo é ver o troféu esportivo mais longevo em disputa continua pela humanidade ser alvo de tanta baixaria, intriga, briga, "escrotice". A experiência de 1988, quando rolou algo parecido e todos concordaram que foi o ponto mais baixo da Vela, em séculos, parece que não serviu de aprendizado. Enquanto os meninos ricos e mimados brigam nos tribunais, o mundo inteiro espera, estarrecido, para saber o desfecho daquela que é, sem dúvida, a regata mais importante do nosso esporte. Lamentável!
Aguardem cenas dos próximos capítulos!
Murillo Novaes
www.velejar.com